A investigação global chamada de The Uber Files, descobriu que "em alguns casos, quando os motoristas eram atacados, os executivos da Uber reagiam rapidamente para capitalizar", na busca de apoio regulatório e público, informou o The Washington Post. A investigação também indica que a Uber trabalhou para evitar investigações regulatórias, aproveitando a vantagem tecnológica.
De acordo com The Guardian, a Uber teria adotado táticas similares em países como Bélgica, Holanda, Espanha e Itália, mobilizando motoristas e os incentivando a denunciar à polícia quando eram vítimas de violência, visando usar a cobertura midiática a seu favor.
A investigação considera que as ações da Uber “são ilegais e que seus executivos sabiam disso, citando um deles ao brincar com o fato de que teriam se tornado ‘piratas’”. Os relatórios revelam que a Uber também fazia lobby com governos para ajudar sua expansão, encontrando em Emmanuel Macron, então ministro da Economia entre 2014 e 2016, um aliado na França.
Os documentos incluem trocas de mensagens de texto e e-mail entre executivos, incluindo o cofundador e ex-presidente Travis Kalanick, que foi forçado a renunciar em 2017 devido a acusações de práticas brutais de gestão e vários episódios de assédio sexual e psicológico dentro da companhia.
"A violência garante o sucesso", escreveu Kalanick a outro dos líderes da empresa enquanto promovia um contra-protesto em meio às manifestações de 2016, em Paris (França), contra a chegada da Uber.
A rápida expansão da Uber foi sustentada por subsídios aos motoristas e descontos em tarifas que afetaram o mercado dos taxistas e "muitas vezes sem buscar licenças para operar como táxi ou serviço de limusine", publicou o The Washington Post.
O outro lado
Uma porta-voz de Kalanick negou as descobertas, alegando que ele "nunca sugeriu que a Uber se aproveitasse da violência às custas da segurança de seus motoristas". A empresa, no entanto, transferiu a culpa no domingo à liderança de Kalanick, cujos "erros" já vieram à público.
"Passamos de uma era de confronto para uma de colaboração, demonstrando vontade de vir à mesa e encontrar pontos de acordo com antigos opositores, incluindo sindicatos e companhias de táxi", disse a Uber, lembrando que seu substituto, Dara Khosrowshahi, "foi encarregado de transformar todos os aspectos de como a Uber opera".
A porta-voz de Kalanick, Devon Spurgeon, afirmou que o executivo "nunca autorizou nenhuma ação ou programa que obstruiria a justiça em nenhum país". Kalanick "nunca foi acusado em nenhuma jurisdição por obstrução da justiça ou qualquer outro crime relacionado", acrescentou.
Reações na França
Na França, o jornal Le Monde, concluiu que houve um "acordo" secreto entre a gigante mundial dos transportes Uber e o então ministro da Economia, Emmanuel Macron (hoje presidente francês), com reuniões no gabinete e vários contatos (reuniões, ligações e SMS) entre as equipes da Uber França, Macron e seus assessores.
A investigação aponta para práticas destinadas a ajudar a Uber a consolidar sua posição na França, como sugerir que a empresa apresentasse emendas “prontas” aos parlamentares. A Uber França confirmou as reuniões com o atual presidente, “dentro de suas responsabilidades como ministro da Economia e Assuntos Digitais”.
O Eliseu, residência oficial do presidente da República Francesa, declarou que Macron, enquanto ministro, foi "naturalmente levado a discutir com muitas empresas sobre a profunda transformação de serviços ao longo dos anos mencionados, que precisou ser facilitada pela eliminação de barreiras administrativas e regulatórias".