Brasil é o terceiro país que mais perdeu liberdade de expressão nos últimos dez anos. (Foto: Pexels/Pixabay/Reprodução) |
O Brasil é o terceiro país que, entre 2011 e 2021, teve um dos maiores declínios de indicadores de liberdade de expressão, segundo o relatório anual do Artigo 19. De acordo com o estudo, o país está em 89º lugar e caiu para a categoria restrita. Em 2021, o número de ataques a jornalistas e veículos de mídia foi o maior desde os anos 1990, com 430 ataques no ano passado. No ranking global, o país teve redução de 38 pontos, ficando atrás de Hong Kong e Afeganistão. Já na América Latina, o país está atrás de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Colômbia e El Salvador. O relatório reúne informações de 161 países em 25 indicadores.
"Saímos de uma nação considerada aberta para restrita em pouquíssimo tempo. Esse dado é um dos mais chocantes de todo o mundo, não só pela queda em si, mas por ter ocorrido de maneira mais acentuada sob a liderança de um presidente que foi eleito, e que deveria prezar a democracia e a liberdade de expressão, o que não é o caso, como mostrado no Relatório”, afirma a diretora-executiva da Artigo 19, Denise Dora.
Segundo o levantamento, o aumento das violações da liberdade de imprensa tem mostrado correlações tanto com a pontuação quanto com o número de ataques, que aumentou mais de 50% no ano da eleição de 2018.
“O diagnóstico reflete o que jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humanos têm vivenciado frequentemente no governo Bolsonaro. Basta lembrar que, há menos de um mês, Bruno Araujo Pereira e Dom Phillips foram assassinados na Amazônia. E até hoje não se sabe quem foi o mandante do crime”, comenta a diretora. "As eleições presidenciais de 2022 serão um teste para a democracia brasileira".
Pesquisa Mundial
Segundo a análise global feita pela organização, 80% da população mundial (6,2 bilhões de pessoas) vivem com menos liberdade de expressão hoje que há dez anos. “Isso é resultado de uma intensificação crescente de mudanças climáticas, conflitos armados e deslocamentos em massa, que silenciam ativistas e comunicadores, deixando populações inteiras sem acesso a informações fundamentais para suas vidas”, complementa Denise.
Esses contextos, segundo ela, "interrompem o fluxo livre de informações, o debate construtivo, a construção da comunidade, a governança participativa, a construção do espaço cívico e a autoexpressão de pessoas de todo o mundo".
O relatório Relatório Global de Expressão 2022-2021, da Artigo 19, produz uma escala de liberdade de expressão que classifica os territórios em uma pontuação geral que vai de zero a cem, sendo zero a categoria de um país em crise na liberdade de expressão e cem a de total liberdade. Para chegar aos números, a organização analisa e traz métricas quanto à liberdade de expressão em todo o mundo, refletindo sobre a garantia de direitos de jornalistas, da sociedade civil e de cada indivíduo de se expressar e se comunicar, sem medo de assédio, repercussões legais ou represálias.